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terça-feira, 20 de outubro de 2015

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Trânsito é mais violento entre os países com população mais pobre, diz OMS

transito redução velocidade
Investimentos em transporte público e regras mais rígidas, com a redução de velocidade em áreas centrais e residenciais já são tradição na Europa e são diferenciais para um trânsito menos leta. Na foto, zona de 30 km/h em Buxtehude, Alemanha.
Por ano, morrem 1 milhão 250 mil pessoas em acidentes de trânsito em 180 países. Transporte público e áreas de redução de velocidade estão entre as soluções
ADAMO BAZANI
Os países emergentes reúnem 54% da frota mundial de veículos, no entanto, somam 87% das mortes em acidentes de trânsito.
O dado impressionante foi divulgado nesta segunda-feira, 19 de outubro de 2015, pela OMS – Organização Mundial da Saúde, em Genebra.
Levando em consideração 180 países, num universo de 6,97 bilhões de pessoas, a OMS constatou que desde 2007 morreram em média por ano no mundo, 1,25 milhão de pessoas.
“Os danos de acidentes de trânsito fatais são inaceitavelmente elevados, sobretudo para pessoas pobres em países pobres” disse a diretora-geral da OMS, Margaret Chan, de acordo com agências internacionais.
O continente com o trânsito mais violento é o africano. Na Europa, os índices de mortes no trânsito por habitantes é o menor entre todos os continentes.
Um exemplo é a comparação entre a Alemanha que, em 2013, registrou 4,3 mortes no trânsito para cada cem mil habitantes e a Libéria, onde no mesmo ano, foram 33,7 mortes para cem mil habitantes, apesar de menos pessoas terem acesso a um automóvel. No Brasil, o dado mais recente do relatório é referente a média de 2012: são registradas 22,2 mortes a cada grupo de cem mil habitantes. O número é alto para a OMS.
A discrepância se explica por vários fatores, entre os quais leis mais rígidas e que são cumpridas de fato, maior fiscalização, mais instrução a motoristas e maiores investimentos em transportes públicos nas nações com maior desenvolvimento.
Pedestres, ciclistas e motociclistas são as maiores vítimas do trânsito no mundo.
No Brasil, é a tendência é parecida. Entre os mortos no trânsito, a maior parte das vítimas é formada por motociclistas, com 28%, seguida por pedestres, com 20%, passageiros de carro de passeio, com 18% e ciclistas correspondem a 3% dos mortos.
REDUÇÃO DE VELOCIDADE É FUNDAMENTAL PARA REDUZIR MORTES E AMPLIAR TRANSPORTE PÚBLICO:
O que causa tanta polêmica em São Paulo, por exemplo, é considerada boa prática pela OMS e largamente adotada em países que conseguiram diminuir a mortalidade no trânsito: a redução de velocidade nos centros urbanos.
Além de diminuir as mortes no trânsito, localidades que reduziram a velocidade dos carros conseguiram fazer com que mais pessoas fossem para o transporte público ou andassem a pé, o que é essencial para a mobilidade urbana e para a queda no total de acidentes.
Em Freiburg, na Alemanha, foram criadas zonas chamadas de Tempo 30, onde a velocidade máxima é de 30 km/h. Como resultado, segundo a OMS, apenas 28% das pessoas passaram a usar carros para transitar no centro da cidade, contra 24% a pé, 28% de bicicleta e 20% de transporte público.
REGRAS:
A OMS aponta para a necessidade de leis de trânsito mais rígidas nos países em desenvolvimento.
Entre as nações pesquisadas, houve crescimento de frota com redução de acidentes em 79. Em 68 países, houve aumento no número de acidentes com mortes.
De 180 países analisados, 107 tem a obrigatoriedade do uso do cinto de segurança para todos os ocupantes do carro. Em 47 países, a velocidade em regiões de concentração de pedestres ou residenciais não passa de 50km/h. Em 44 países, os motociclistas precisam usar capacete obrigatoriamente e a cadeirinha para crianças em carros de passeio é regulamentada em 54 países.
Nas nações mais desenvolvidas, apesar da fiscalização rígida, são poucas as reclamações sobre eventuais “indústrias da multa”. Não há tantas pegadinhas como nos viários brasileiros, mas não há tanto desrespeito como por parte dos motoristas brasileiros.
DIFERENTES REALIDADES:
Os índices de mortos em acidentes de trânsito para grupos de 100 mil habitantes mostram que muito mais que a taxa de motorização de um país, a estrutura viária, a educação, as leis de trânsito e a oferta de transporte público são os diferenciais para um país ter ou não ruas e avenidas violentas.
Confira alguns exemplos:
– Suécia: 2,4 mortes por 100 mil habitantes
– Suíça: 3,3 mortes por 100 mil habitantes
– Dinamarca: 3,4 mortes por 100 mil habitantes
– Espanha: 3,7 mortes por 100 mil habitantes
– Alemanha: 4,3 mortes por 100 mil habitantes
– França: 5,1 mortes por 100 mil habitantes
– Áustria: 5,4 mortes por 100 mil habitantes
– Itália: 6,1 mortes por 100 mil habitantes
– Grécia: 9,1 mortes por 100 mil habitantes
– Polônia: 10,3 mortes por 100 mil habitantes
– Estados Unidos: 10,6 mortes por 100 mil habitantes
– China: 18,8 mortes por 100 mil habitantes
– Brasil: 22,2 mortes por 100 mil habitantes
– Libéria: 33,7 mortes por 100 mil habitantes
TRANSPORTE PÚBLICO, FUNDAMENTAL PARA A REDUÇÃO DE ACIDENTES:
Os investimentos em transporte público, seja por trilhos ou corredores de ônibus, também são fundamentais para a redução de acidentes e mortes no trânsito por vários aspectos.
O primeiro deles é natural. Com redes de ônibus e metrô eficientes, mais pessoas vão deixar o carro em casa para descolamentos diários. O índice de motorização pode ser alto, ou seja, os habitantes terem muitos carros. Mas uma oferta de transporte público de qualidade disciplina o uso do carro de uma maneira espontânea. Torna-se vantajoso ir de ônibus ou metrô para as viagens cotidianas para o trabalho e escola.
Além disso, áreas para transporte público bem planejado ajudam a organizar o espaço urbano, com a hierarquização das vias dando prioridade para pedestres, ciclistas e veículos de transporte coletivo. Foi assim que nasceu o BRT – Bus Rapid Transit, sistema de corredor de ônibus, em 1974, na cidade de Curitiba, o primeiro do mundo.
Ao criar as canaletas para ônibus, o então prefeito Jaime Lerner, arquiteto e urbanista, não quis apenas oferecer um meio de transporte, mas organizar a cidade.
Com o tempo, no entanto, os investimentos não tiveram continuidade e não acompanharam as necessidades do crescimento populacional, mas os corredores de ônibus de Curitiba ainda são referência em mobilidade.
Adamo Bazani, jornalista especializado em transporte

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